terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A fala e o silêncio



Um olhar bem colocado apaixona, consola, impõem respeito, dar ordem ou aterroriza, e não são só os olhos que são capazes de passar tantos sentimentos com contatos tão simples. A fungada no pescoço, quando feita por um afeto arrepia até a alma, de uma maneira confortável e deliciosa, já, quando vem de um desafeto a alma recebe um outro arrepio tão profundo quanto, mas em vez de felicidade um medo ou até mesmo um ódio a toma, tudo isso ocorre sem nem a pessoa que recebe precisar virar para reconhecer o individuo.


Ta certo que usei exemplo bem clássicos e extremos, mas pensem bem: quantas vezes um virar de rosto não nos deixou com um sentimento de quero mais e o mesmo movimento em outra situação não nos estraçalhou a alma. Quantas vezes um aperto de mão falou “seja bem vindo, estamos felizes em lhe ver” e quantas vezes ele já não disse “dá o fora que aqui não é o seu lugar”.


Tendo consciência, ou não, esses são fatos que realmente acontecem, ignorar ou subestimar é algo perigoso. Querendo ou não, estamos o tempo todo conversando com os outros com o corpo, não entender o que estamos falando pode levar uma pessoa que gostamos a achar que a odiamos, ou quando usada corretamente pode transparecer felicidade quando na verdade se quer chora, outra vantagem em ter ciência do que nosso corpo fala é poder surpreender a amada com toda uma declaração de amor sem nem abrir a boca. Na minha humilde opinião esse é o melhor uso da linguagem corporal.


Nossa, quantas vezes já não me envolvi e me perdi dentro dessa rede de comunicação, inúmeras vezes me apaixonei por um olhar, por um sorriso, por um modo de sentar e até pelo modo de andar. Teve até uma vez que me apaixonei perdidamente por uma guria que, por mais que não fosse a mais bela do grupo, era a que mais me encantava com a canção que fazia com todo seu corpo. Infelizmente o mundo não é um lugar perfeito ou justo de todas essas paixões, apenas duas delas se consumaram em um abraço, em carinhos e em beijos, elas foram minhas únicas namoradas.


Relacionamentos que foram simplesmente lindos e maravilhosos enquanto duraram. O primeiro terminou de maneira natural e gostosa, sem brigas, mas infelizmente o segundo, que de alguma forma sem tem um quinto do contato intimo que tive no primeiro, foi de uma intensidade bem maior e talvez por isso tenha terminado abrindo uma ferida, talvez algum dia fale sobre.


Muitas pessoas nem considerariam esses dois relacionamentos como namoros, pois efetivamente duraram cerca de dois meses cada, o primeiro teve um período extra oficial maior, pois oficialmente esta terminado por morarmos longe; já o segundo foi isso mesmo.


Apesar de toda a intensidade que tive com a Carol3 e a Erica1, CECEC, minhas cinco grandes paixões, das quais 3 foram platônicas, mas todas marcaram de alguma maneira a minha vida, abrindo um ferida ou uma flor, com a Erica1 tive uma entrega muito maior o que rendeu momentos deliciosos e simplesmente sublimes, com ela não era preciso palavras para falar, verbal ou corporal, para nos comunicar. Simplesmente estávamos juntos e isso por si só nos completava, quantas e quantas vezes ficamos em completo silencio olhando para o vazio aproveitando o momento, até hoje não sabia como definir isso mas semana passada lendo um texto para faculdade descobri o que era esse momento.


Era a comunicação do silêncio. O autor falou duas coisas sobre o silêncio que até então eu havia ignorado e, no momento em que pus os olhos na frase, um fantástico e maravilhoso mundo se abriu a minha frente, lembranças maravilhosas voltaram a tona. Sou bem tímido e com essa descoberta comecei a entender as vezes que ficava mudo sem saber o que falar.

A famigerada frase que me levo a tudo isso é:
“O silêncio é a língua de todas as fortes paixões, do amor à raiva passando pelo medo e a surpresa. Quanto mais intenso for o sentimento menos palavras poderão defini-los.”


Por mais linda que ela pode ser, ela me leva a conclusão de que o mundo do silêncio é maravilhoso e ao mesmo tempo frio e solitário quando ninguém mais entende o poder que está por trás do não falar. Isso não só para o receptor como para o emissor. Quantas vezes não fiquei com raiva de mim por não ter conseguido falar nada para ela e outras tantas não fui valorizado dentro do meu silêncio.

Grande parte de tudo isso, ao meu ver, é culpa do mundo moderno que não quer se dar tempo para sentir o momento, as pessoas tem que estar sempre fazendo alguma coisa, sempre falando, sempre provando algo, parou-se de ver o pôr-do-sol ou de olhar as flores. E o mais triste de tudo: todos pararam de olhar para as outras pessoas. Quantos amigos não sabem mais ver quando o outro amigo está precisando de conforto ou de ser deixado quieto, quantos namorados não sabem ficar juntos sem estar numa balada ou transando, quantos casamentos são terminados pelo casal não saber a hora de ficar calado e deixar a poeira baixar.